O Rotten Tomatoes é um dos principais agregadores de crítica na internet. O site reúne resenhas de filmes e séries de TV publicadas em diversos veículos, revistas e blogs e forma uma média das avaliações — definindo uma nota definitiva para as produções.
A autenticidade dos números vistos no portal, no entanto, foi posta em risco por reportagem da revista Vulture. Segundo a publicação, empresas de publicidade conseguem manipular as médias com determinada facilidade, oferecendo dinheiro para críticos de sites consultados pelo Rotten Tomatoes.
A Bunker 15 é uma dessas empresas e foi responsável pela divulgação de ‘Ophelia’ — longa-metragem ambicioso, que buscou recontar Hamlet sob uma perspectiva feminista. Estrelado por Daisy Ridley, o projeto não empolgou o público em suas primeiras exibições. Após 13 reviews, o filme contava com apenas 46% de aprovação no site.
O cenário, no entanto, mudou rapidamente quando a Bunker 15 começou a agir e buscou críticos independentes para aumentar a aprovação. Aproveitando o sistema do Rotten Tomatoes — em que as resenhas de veículos grandes e confiáveis têm o mesmo peso dos textos produzidos por blogs pequenos — os funcionários passaram a contatar esses jornalistas para convencê-los a mudar de ideia sobre o filme.
Um dos críticos revelou ter recebido um e-mail de um dos funcionários da empresa. “É um filme do Festival Sundance e sentimos que ele foi tratado de uma forma muito dura por alguns críticos (tenho certeza que a culpa é das expectativas altas). As equipes envolvidas pensam que ele seria beneficiado ao ser revisado por críticos diferentes”, dizia a mensagem.
O jornalista, que não teve a identidade revelada, perguntou o que aconteceria caso ele “odiasse” o filme. Em resposta, o funcionário alegou que “os mais legais (e tem mais críticos assim do que eu imaginava) geralmente concordam em não publicar as reviews ruins em seus sites principais. Em vez disso, os textos iriam para um blog menor, que o Rotten nunca veria. Acho que isso é algo bem legal de se fazer”.
A prática funcionou e, entre outubro de 2018 e janeiro de 2019, ‘Ophelia’ recebeu sete críticas favoráveis que fizeram com que a aprovação alcançasse 62%. Isso foi suficiente para garantir que o filme, até então sem distribuição nos cinemas dos Estados Unidos, tivesse os direitos comprados pela IFC Films no intervalo de um mês.
Um jornalista que escreveu uma crítica negativa foi entrevistado pela revista e afirmou que também foi contatado por um funcionário da Bunker 15. O objetivo da conversa era fazer com que ele mudasse a própria “opinião” sobre longa-metragem para algo “perto de positivo”.
Todas as reviews do Rotten Tomatoes são divididas em um sistema binário. A média entre a quantidade de críticas negativas e positivas é o que define a porcentagem de aprovação. Desta forma, ainda que o jornalista tenha severos contrapontos a fazer, se a sua avaliação geral for levemente positiva, ele contribuirá para uma melhor porcentagem final.
O funcionário da Bunker 15 ainda afirmou ao crítico irredutível que conhecia “os editores do Rotten Tomatoes” que poderiam fazer com que a resenha dele fosse alterada para “positiva”.
Embora o site do Rotten Tomatoes destaque que proíbe resenhas feitas com base em incentivos financeiros, a reportagem mostra que é provável que críticos tenham aceitado o pagamento de US$ 50 oferecido pela Bunker 15.
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